sábado, 28 de agosto de 2010

O Deserto nosso de cada dia!


A passagem do povo de Israel pelo deserto, iniciando pela travessia do Mar Vermelho me deixa sempre muito entusiasmado e impressionado. Considero uma das passagens mais marcantes da Bíblia. Sempre tento me transportar para a época e o lugar em que Moisés levantou seu cajado e sem saber realmente o que Deus faria, apenas por fé, comandou o povo até o outro lado. O que acontece do outro lado, ou seja, no deserto, é que gostaria de comentar neste espaço em branco que preencho com palavras e pensamentos no mínimo fustigantes. Cresci ouvindo e concordando com histórias e pregações que relatavam o fato de que o povo de Israel, recém liberto da escravidão, não mantinham a fé, murmuravam, adoravam outros deuses, duvidavam de Moisés, se dividiam entre si, questionavam a autoridade de Moisés, eram desobedientes, enfim, um povinho difícil de se comandar e de se conduzir a qualquer lugar que seja. Mas como sempre, é muito mais fácil julgar os outros do que se colocar na situação em que se encontram e ver como reagiríamos, ou até mesmo se seríamos capazes de estar lá. Parece que esquecemos propositadamente ou não, de alguns pontos críticos que gostaria muito de comentar com vocês agora.

1) O povo estava acostumado com uma vida de escravidão: Historicamente todos os povos ou raças que foram feitas escravas (índios, negros, entre tantos outros), quando foram libertadas, tiveram diferentes reações de forma particular. Alguns indivíduos preferiram continuar em seus “locais seguros” por medo de enfrentarem o paradigma do novo e de serem responsáveis por si próprios, outros levaram décadas para se acostumarem, alguns não se acostumaram até hoje. Fora o preconceito que estes povos e raças levam para o resto de suas vidas. Levando para o lado espiritual, não é muito diferente. No mundo somos escravos do medo, da angústia, do pecado, do tempo, do controle humano entre outras coisas que poderia citar. A transição que fazemos ao aceitar a liberdade que Jesus nos dá, é difícil e lenta na maioria dos casos. Acostumamos ao que o mundo nos oferece e por mais que seja nada, nos contentamos e nos fingimos felizes e realizados. Ao dar o passo de decisão de fé na palavra de Deus, assumimos uma responsabilidade maior com nós mesmos, com o próximo, com o mundo e com o próprio Deus. Muda a concepção de escravo do mundo para uma atitude de libertador de almas perdidas. Mesmo assim, alguns de nós voltamos para a escravidão, outros se dividem em jornadas duplas, ora livres, ora escravos, outros levam anos para depois de livres, se libertarem do próprio eu, de sua consciência acusadora e do passado que ainda pesa em seus ombros. O preconceito também nos atinge, sabia?
Após livres e separados, o povo ainda escravizado nos observa e nos espreitam como advogados de acusação, prontos para nos pegarem cometendo as mesmas antigas ações de escravo. Aí, eles com sorrisos de satisfação dizem: Não se dizem livres, escolhidos e separados? Não passam de um de nós embaixo de suas capas de ovelhas brancas. Já imaginou como isso fere o coração de Deus e torna em vão todo o sofrimento e sacrifício que Jesus fez por nós?

2) O povo realmente reclamava, murmurava, desobedecia, duvidava e entristecia a Deus:
O povo, que somava mais de 2.000.000 de pessoas,estava no DESERTO, sentindo calor desumano de dia e frio mortal à noite, com crianças de todas as idades e mulheres grávidas, doentes e idosos que ficavam para trás, animais que também consumiam água e comida, ventos castigantes de areia e todos os utensílios e poucas roupas, imagino, amontoadas em amarrados de panos e trapos que tinham que ser toda hora mexidos e remexidos. Imaginem. A nuvem se levantava e o povo andava a nuvem parava e o povo parava. Isso não tinha dia certo e nem hora certa de acontecer, portanto aquelas mais de 2.000.000 de pessoas com tudo o que tinham, estavam sempre prontas a acamparem ou se levantarem e prosseguirem ao desconhecido e incerto destino.
Vamos fazer uma comparação surpreendente e assustadora?
Hoje nós somos livres em Jesus Cristo e dentro dos parâmetros normais temos: um teto, trabalho remunerado, comida, bebida, roupas limpas, conduções, clima tropical, igrejas livres em quase todas as esquinas, acesso à informação, saúde e à educação, etc... Mesmo assim, o que mais fazemos é murmurar, reclamar, duvidar, desobedecer e entristecer o nosso Deus. Acha que estou exagerando? Então vejamos... Quantas vezes acordamos e esquecemos de agradecer a Deus pela noite dormida e por tudo o que nos tem dado? Engolimos o café da manhã e saímos apressados para o trabalho ou escola, sem tempo de sequer pedirmos que Ele nos acompanhe? Quando saímos à rua, reclamamos que está muito quente, muito frio ou até mesmo chovendo, murmuramos esperando a condução, ou quando pegamos trânsito com o nosso carro, continua com os sinais, a fumaça que sai dos caminhões ou do ônibus, o chefe ou os empregados, o salário, as contas, a esposa, o marido, os filhos, os colegas do trabalho ou da escola, e depois tudo de novo quando estamos voltando para casa. Ao chegar em casa estamos estressados, cansados, e aborrecidos com qualquer coisa banal, ou não, que tenha ocorrido em algum momento do dia. Após algumas reclamações, cobranças ou discussões mútuas entre marido, esposa e filhos (ou pior, um silêncio isolado de todos que demonstra uma falsa harmonia), só resta tempo para um rápido banho, comer novamente o que tiver, e se deliciar com a única coisa capaz de nos proporcionar relaxamento, felicidade e paz: A TV. Se não houver pelo menos duas ou mais tv’s espalhadas pela casa, começa então outra discussão, agora pelo poder de segurar e comandar o controle remoto e decidir quais dos vários maravilhosos e edificantes programas que irão ver. Depois vamos dormir sem agradecer o dia de vida que tivemos e não reconhecemos as bênçãos e cuidados que o Senhor teve conosco. Às vezes ainda temos insônia por que não esquecemos os nossos problemas do dia que passou ou do há de vir. Será que há diferenças entre nós hoje e o povo de Israel no deserto? Acho que não! Infelizmente somos muito piores e entristecemos ainda mais a Deus do que eles. Nunca estamos satisfeitos, damos mais valor e importância a tantas outras coisas do que ao nosso Deus, investimos pouco ou quase nada na obra do Senhor, negligenciamos com o nosso testemunho, lemos pouco a palavra de Deus, conseqüentemente guardamos pouco Dela em nossos corações, vivemos no mundo, para o mundo e pelo mundo, em vez de vivermos no mundo para alcançarmos vidas para Jesus, pensamos no dia de amanhã em vez da eternidade, criamos outros deuses e damos nosso dinheiro e tempo a eles, reclamamos de nossos pastores, perdoamos muito pouco, nosso amor e fé são fracos, somos um povo só, mas divididos em várias denominações, que quanto mais aparecem, mais ficam divididas e frágeis, ou seja, somos um povinho difícil de se lidar.

Será que não é o caso de estarmos vendo o cisco no olho de nossos irmãos e nos acostumando com a trave nos nossos próprios olhos, nos cegando aos poucos? Quando pregarmos, ou escutarmos novamente os sermões que acusam o povo de Israel em agir errado no deserto e por rejeitar e crucificar Jesus, sejamos mais compreensivos e benevolentes, pois podem acreditar, não só faríamos igual naquela época, como fazemos pior nos dias de hoje. Se não fosse o grande amor e misericórdia do nosso Deus, e a promessa feita a Noé, de que não mais exterminaria toda a raça humana, não estaríamos aqui para vivermos nossas vidas miseráveis, cegas e nús.

Naquele que espera de nós adoração e amor sincero e livre, a paz.
Daniel Luis Gomes de Souza

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